Saudade

"Um dia a maioria de nós irá separar-se. Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhámos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje já não tenho tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!


- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo. E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"


Fernando Pessoa (1888 - 1935)





É impressionante a intemporalidade deste texto. Não consigo precisar quando foi escrito, mas vendo pela época em que o Sr. Fernando Pessoa viveu, é maravilhoso ver que se adequa perfeitamente ao nosso quotidiano, e o pior é vai acabar por se manter sempre actual. 
Adoro este texto, sim ao contrário de toda a obra poética de Fernando Pessoa, como por exemplo "A Mensagem", ou todos os enormes poemas que ele escrever com os seus mais variados heterónimos. Não sou grande fã de poemas, aliás não sou fã de todo! E confesso que foi praticamente uma tortura ter que ler todos aqueles poemas durante o 12º ou 11º ano! 
Mas este texto, não sei, é tocante. 
Já o li, e reli mil e uma vezes, e por cada vez que o leio, vem-me à memória certos "amigos", certas pessoas que já saíram da minha vida, e é com muita pena que digo que tenho muitas saudades de alguns.
 Acaba sempre por cair uma lágrima. 

Acabo sempre a pensar nos meus amigos, os que hoje chamo de amigos, e é com alguma felicidade que chego sempre à mesma conclusão: não os quero perder.
Sei que há um que nunca me vai abandonar, o meu melhor amigo, o meu irmão, sei que ele vai-me acompanhar o resto da vida. 
Quanto aos outros, tenho plena consciência de que quando a escola acabar o contacto vai ser mais demorado, vamos falar menos vezes, mas sei que quando falarmos vamos querer contar tudo o que se passou, todas as novidades. 
Eu prezo muito os meus amigos. E espero nunca vir a perde-los. 
Já perdi muitos, e sofri bastante com isso, a ausência é algo que me magoa imenso, e que tento a todo o custo combater.





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